O Cubismo não nasceu em ateliê algum. Ele emergiu das fraturas de um mundo em transformação, e poucos artistas viveram essa ruptura de forma tão pessoal quanto Pablo Picasso e Fernand Léger. Suas trajetórias não foram paralelas, mas se cruzaram no epicentro de uma revolução estética que marcou o início do século XX.
Pablo Picasso e a origem da fragmentação (1907 - 1914)
Em 1907, Picasso finaliza Les Demoiselles d'Avignon, mas a obra ainda não revela totalmente o Cubismo. Era uma transição abrupta da fase azul e rosa para algo radicalmente novo. A convivência com Georges Braque, em 1908, e a observação sistemática de objetos e figuras, o levam a desenvolver o chamado Cubismo Analítico.
Durante esse período, obras como The Old Guitarist (exposta na loja como quadro decorativo) mostram ainda traços do momento anterior à ruptura. Pintada entre 1903 e 1904, em meio a um momento de luto e pobreza em Paris, a tela representa um homem curvado, isolado, tocando um violão. Picasso havia perdido seu amigo Casagemas por suicídio e estava imerso na chamada fase azul. A figura está distorcida, mas não ainda por análise geométrica, e sim pela expressão emocional. É a preparação psicológica para o que viria. A pintura transmite introspecção profunda e solidão existencial. Ideal para pessoas mais reflexivas, melancólicas ou que valorizam o silêncio interior.
Com Femme au Chien, Picasso já adota a desarticulação do corpo em planos quebrados. Essa obra reflete o Cubismo em sua fase madura. Ele já não busca representar a aparência da mulher com um cão, mas sim a forma de percebê-la em diferentes ângulos simultâneos. Picasso nessa época está cercado por cientistas, poetas e pensadores que questionavam as noções de tempo e espaço.
Horta de Sant Joan
A tela é o resultado de uma vida dividida entre Paris e Horta de Sant Joan, onde o espaço rural o afastava da efervescência francesa, mas lhe dava tempo para estudo formal das formas. A obra é impactante, enigmática, e combina com perfis analíticos, questionadores e amantes da complexidade.
A obra Nude Standing By The Sea retoma a figura feminina em um contexto que se aproxima do Cubismo Sintético, com cores mais vivas e contornos marcados. Após o Cubismo Analítico, onde as cores eram limitadas e a estrutura era obsessiva, Picasso se volta para uma síntese mais expressiva. Ele não quer mais "analisar" a figura, mas reconstituí-la. É uma arte que sugere liberdade formal e fluidez perceptiva, ideal para pessoas criativas, livres e que buscam novas formas de ver o mundo.
Fernand Léger: o cubismo da máquina e da cidade (1910 - 1930)
Enquanto Picasso fragmentava o mundo para reconstruí-lo com emoção, Fernand Léger o fazia com a objetividade de um engenheiro. Formado em arquitetura, Léger inicia sua aproximação com o Cubismo por volta de 1910, e seu envolvimento com Braque e Picasso foi direto. Ele não apenas conheceu os dois artistas, mas compartilhou exposições e influências em comum.
Sua obra Composition au Damier, por exemplo, revela não apenas a geometrização da forma, mas a influência do mundo moderno: linhas como estruturas urbanas, contrastes que lembram sinais gráficos. Léger não pintava a mulher com sentimento, mas como engrenagem de um novo tempo. A arte transmite senso de ordem e estrutura, e pode agradar perfis racionais, modernos e urbanos.
Portrait du Femme traz uma mulher montada como um mosaico cromático, mas com elementos decorativos que indicam um certo distanciamento da secura do Cubismo Analítico. É uma pintura que marca a fase pós-cubista de Léger, mais ligada à cor e ao ritmo do que à desconstrução. Essa obra pode agradar quem aprecia equilíbrio entre forma e beleza, e tem um olhar sensível para o design como arte cotidiana.
Já em Le Vase, 1927, ele se aproxima do que chamava de "realismo moderno": objetos comuns ganham protagonismo e são elevados a formas quase arquitetônicas. Essa escolha está diretamente ligada ao seu interesse crescente pelo design, pela tipografia e pelo urbanismo. Uma pintura que transforma o ordinário em extraordinário. Ideal para pessoas práticas, observadoras e minimalistas.
Cubismo e cotidiano
O Cubismo não foi apenas uma experiência formal. Para Picasso, serviu como forma de digerir sua experiência emocional e intelectual. Em Le Rêve, por exemplo, a figura feminina é retratada em sonho, não como uma imagem fiel, mas como um desejo projetado. A relação amorosa com Marie-Thérèse Walter, mais jovem, o rejuvenesce e sua arte ganha erotismo, curvas e cores quentes. A obra propõe sensualidade onírica, ideal para pessoas intensas, afetivas e que vivem entre imaginação e desejo.
Une Femme devant la Propagande
No caso de Fernand Léger, o cotidiano industrializado é o que define sua arte. Em Une Femme devant la Propagande, ele inclui a figura humana em meio a formas e sinais, quase como uma peça de cartaz urbano. Aqui, a arte se funde com a publicidade, com o ruído visual da cidade moderna. A obra dialoga com quem se interessa por comunicação, cultura de massa e o impacto visual do mundo contemporâneo.
A obra Fond Bleu é outra síntese desse espírito. Léger reduz a paleta para dar força à composição. Não se trata de retratar, mas de organizar formas com o mesmo rigor de um projeto gráfico. A peça propõe uma linguagem direta, potente, e agrada pessoas objetivas, que preferem clareza à abundância de elementos.
Convergências e rupturas
Ambos os artistas fizeram do Cubismo uma linguagem pessoal. Picasso, com sua carga emocional, e Léger, com seu compromisso com a vida moderna. O que une suas trajetórias é o uso da geometria como forma de compreender o mundo, e o que os separa é o modo como se relacionavam com ele.
Enquanto Picasso nunca deixou de pintar pessoas que conhecia intimamente, Fernand Léger retratava tipos, não indivíduos. Para Picasso, cada fragmento era uma experiência pessoal. Para Léger, cada plano e cor eram elementos de uma engrenagem universal.
O Cubismo decorativo, hoje presente em pôsteres e quadros como os da loja, não dilui a força dessas imagens. Pelo contrário, mostra como uma linguagem criada para questionar a realidade acabou por se tornar parte do cotidiano visual moderno.